Cartas no mar


"- Eu nunca achei uma dessas garrafas com uma carta no mar.
- Por que você está falando isso?
- Não sei. Estamos aqui, sentados na areia e olhando o mar… Veio isso à cabeça.
- Você gostaria de achar uma?
- Provavelmente.
- O que imagina que estaria escrito?
- Coisas bonitas.
- Bonitas como?
- Coisas tragicamente bonitas. Algo como “vivi por aquele amor, mas ela escolheu o caminho o mais fácil”. Talvez algo mais poético: eu era um sonhador que teve a cabeça arrancada pelos incapazes de amar. Mesmo que não rime, soa trágico e bonito.
- Você sonha demais, pequena.
- Quem sabe um dia eu mesma não escrevo uma e a jogo no mar.
- Eu leria toda e qualquer carta que você quisesse escrever.
- Ainda que fossem trágicas?
- Pequena, até o trágico vira comédia com você.
- Isso foi um elogio?
- Foi, claro que sim.

Estávamos ali, eu e ela, sentados na areia com o infinito do mar como paisagem. Aquela menina mal sabia de quantas palavras eu mesmo gostaria de escrever a ela. Sequer imaginava das minhas noites em claro imaginando se ela viria no meio da chuva dizer coisas “bonitas e trágicas”. Ela era toda assim: bonita e trágica. Ligava no meio da tarde dizendo sentir fortes palpitações no coração, mas que não morreria sem me receber para um último café. Subia em pedras consideravelmente altas e refletia sobre a indecisão de pular na água ou andar comigo de mãos dadas por toda a costa. Ela era doce e não enjoava. Era azeda e não fazia mal. E agora ela queria somente escrever cartas e jogar no mar. Poeta, criança, menina, mulher. Sem necessidade de escrita alguma, eu leria todos os sinais dela sem piscar os olhos."
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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