A pergunta, o silêncio e a saudade


Eu pretendia postar outro texto aqui que já estava até escrito. Porém, vou fazer uma pequena mudança de planos. Essa minha mudança de planos começou com uma lembrança que já mora faz uns dias na minha mente.

Eu venho lembrando insistentemente de uma vez quando uma pessoa me perguntou o motivo pelo qual naquele contexto eu a considerava um tanto mais importante do que as outras pessoas que me eram também queridas. Os termos exatos da pergunta eu não lembro, mas a lógica era mais ou menos essa dita anteriormente. Na época eu dei algumas respostas, mas repensando ultimamente, parecia faltar alguma coisa. Não sei por que, mas eu tentava achar algum complemento à resposta e coisas do tipo. No meio disso, hoje eu achei uma frase da Martha Medeiros que parece ter resumido todo o meu pensamento. "Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?". Ela disse tudo.

É uma perda muito grande passar por esta vida e não ter alguém com quem se possa sentar e ficar em silêncio por um longo tempo sem que aquilo não constranja ambas as partes. Contar segredos, fazer barulho e conversar amenidades é realmente fácil. Difícil de verdade é partilhar dos mistérios que um silêncio pode guardar. Ou, mais difícil ainda, é permanecer em silêncio sabendo ler e "ouvir" todos os mistérios que ele fala. O silêncio também conforta e fala alto, muito alto. Ele é muito mais sagrado do que a palavra, ainda mais entre duas pessoas. Pode fazer um teste. Experimente andar ao lado de alguém por dez minutos em silêncio, ou ficar em um quarto pelo mesmo tempo ainda em silêncio. Não é qualquer um que nos dá a segurança de não precisarmos falar. São raras pessoas que nos permitem esse privilégio. Além de a falta de assunto ser uma situação um tanto embaraçosa, ela carrega uma série de desconfianças.

A maioria das pessoas não entende os motivos de se querer permanecer calado, acha estranho não se ter um assunto ou estraga um momento precioso empilhando inúmeras bobagens ditas por não saber o básico, mas difícil: compartilhar o silêncio. Às vezes ele é ignorado por medo do que possa revelar. Outras vezes é isso mesmo, uma pura falta de assunto que acontece tanto com pessoas que se conhecem há pouco tempo quanto com as que vivem 24h por dia juntas há anos. Mas nem todo mundo é capaz de entender isso. E nem todo mundo é capaz de compartilhar o nosso silêncio - seja pelo motivo que for - de uma forma leve e natural. Você pode conhecer uma pessoa há dez anos, mas isso não é garantia de conseguirem suportar um silêncio no ambiente por muito tempo sem se sentirem estranhas ou desconfortáveis. E o silêncio também é bem ambíguo por que a partir do momento em que ele pode ser tão bom, também pode machucar muito e ainda deixa saudade.

Hoje, a resposta para aquela pergunta seria baseada nisso, no silêncio que me era tão confortável, mas hoje dói. Aquele silêncio antigo não me dava a obrigação de falar. Ando com uma necessidade de silêncio, é verdade. Talvez seja por isso que essas coisas finalmente se juntaram nos meus pensamentos - a pergunta da pessoa e a frase da Martha Medeiros. Enfim, o fato é que precisamos de no mínimo uma pessoa no mundo que possa estar ao nosso lado ou até no telefone e não estranhar o nosso silêncio e vice-versa. Eu sinto falta daquele silêncio. Sinto uma falta grande de não precisar me explicar e falar qualquer coisa simplesmente porque não falar causa estranhamento. Eu sinto falta de compartilhar o meu silêncio e nunca achei que chegaria nesta conclusão de agora. Por que era mais importante do que o resto? Porque era o meu silêncio preferido.

Então, tudo o que eu sei sobre saudade e silêncio, é que um pode muito bem morar no outro. E se você sente-se bem em silêncio com o seu pai ou a sua mãe, um amigo, namorado e até um desconhecido - vai que acontece? -, enxergue isso como uma coisa grande. Enxergue isso como algo muito mais importante do que todos assuntos e segredos que são ditos em voz alta. Quando você descobre que o silêncio "bem-vindo" foi embora, todos os outros sons parecem doer.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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