A confusão das minhas linhas

"Poesias são o fraco da minha escrita, meu bem. Não sei fazê-las com nenhuma primazia próxima aos grandes nomes da mesma. Desconheço dos recursos linguísticos para chamar a atenção de quem me lê. Prefiro sempre ficar nessas minhas linhas tortas e mal acabadas, mas é onde posso lhe contar sobre mim. É que hoje, entenda, eu gostaria de fazer alguma poesia bem bonita com a vida. Gostaria de fazer rimar algumas coisas como “sábia” e “sabia”. Você vê o meu desespero? Quero rimas! Porque sempre acho que a vida é um conjunto belo de rimas ricas que ora são à la Gonçalves Dias com o seu nacionalismo aflorado, ora à la Vinicius de Moraes com a sua musicalidade suave. Eu nunca me encaixo em nada disso. Acordo certos dias com imensa vontade de pegar um avião para bem longe desta terra brasileira que me fere os olhos. Também acordo em outros dias com uma urgência de música forte, batida rock’n roll mesmo. É tudo fruto do meu inconstante olhar para a vida. Quero tudo. Quero nada. Como você pode ver, quero sempre os extremos. E dá uma angústia imensa saber que na maioria das vezes não tenho nem um e nem o outro. Fujo tanto de mim. Não queria lhe contar essa parte, mas ela se faz necessária. Talvez porque não possa simplesmente saciar a vontade de fugir do país ou pelo menos da cidade. Talvez porque não me suporto em dias de altos tons como o rock’n roll. Não sei, ainda não me decidi dos meus próprios motivos. Qualquer dia desses vou me encarar com firmeza. Perguntar ‘e aí, vai viver nessa confusão até quando?’. Ah, mas tenho um medo da resposta, meu bem! Vai que, subitamente, eu me respondo. “Você nasceu confusão e vai morrer confusão”. Não posso me ouvir falando a verdade cruelmente desse jeito. Então, entrará a minha parte Vinicius de Moraes - veja só que atrevimento a minha comparação. Suavemente, quase no mesmo tom de Vinicius, eu me pergunto: “ah, por que tudo é tão triste?” Mais suavemente ainda, eu me responderia: “ah, se ela soubesse que quando ela passa o mundo inteirinho se enche de graça, e fica mais lindo por causa do amor”. Se eu soubesse, meu bem… Pronto, eu, que nunca pisei em Ipanema, fui suave e ainda falei de amor! Falando de amor e citando Ipanema, viro Gonçalves Dias, cheio de amor e louco pelo Brasil. Meu bem, releia essas últimas linhas. Você entende alguma coisa? Enxerga as ligações entre elas? Você, eu e todo mundo precisamos admitir: sou uma grande confusão. E me perfuro fundo quando encaro tal fato. Entretanto, só para você não achar que dramatizo demais, confesso: ainda restam no meu calendário os dias que sou pura felicidade. Nesses dias, nada de rock’n roll, janela fechada escondendo a beleza do dia azul ou cinza, fio do telefone cortado ou desespero por me achar. Permito-me ser como quiser. Nesses dias, deixo Vinicius calmamente me cantar:

‘Eu sou, eu sou estrada
Eu sou, eu sou levada
Eu sou, eu sou partida
Contra o grande nada - lá vou eu!’

E vou, meu bem, com a confusão de quem se lamenta, é feliz e apenas queria te escrever, eu vou. Eu me despi nesse texto estranha e confusamente escrito. Mas sei que você irá me compreender. Sei que verá em cada letrinha a face da minha eterna confusão. E sei ainda que concluirás o quão sentimental eu me torno mesmo quando me nego. Não há outro jeito de ser eu, senão assim."
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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