Eles sempre ficam para amanhã

"- Fala mais perto, por favor…
- Você está doente, não surdo.
- Doente. Cheio de ferimentos das suas palavras, sabia?
- Não dramatize. Você não tem coragem suficiente sequer para ameçar que se jogará de uma ponte.

Como me acerta em pontos fracos essa menina, meu Deus! Ela tem olhos sutilmente doces, mas nunca baixa a guarda para eu entrar. Como pode? Ela fere um coração que eu desconhecia aqui dentro. Penso em voltar atrás, voltar no tempo, voltar ao homem-frio-e-sem-coração de antes. Depois, olho essa menina chegando como se pudesse fazer uma revolução em mim - e, de fato, faz - e repenso: prefiro esse homem-que-se-humilha-por- amor de agora. Prefiro esse amor que dói, mas ressurge a cada olhada.

- Menina, você não tem dó de mim?
- Às vezes, quando você solta suspiros no ar, talvez sim. Você parece um humano cheio de aflições neles.
- Eu sou um humano cheio de aflições, você não vê?

Silêncio. Ela sabia que eu o era, mas preferia me ter como uma indestrutível fortaleza para não adentrar o meu atordoado mundo. E eu, um pobre alguém querendo o amor sem idas e somente com vindas, não sabia mais como pedir para que ela ficasse.

- Está na minha hora. Cuide-se. Eu volto amanhã para ver se este seu sorriso malicioso ainda está vivo.
- Meu beijo, menina.

Ela enviou-me um beijo no ar.

- Não. Aqui, na minha pele contra a sua, por favor.

Contrariada, ela veio. Encostou com um carinho que renasce uma vida a sua boca na minha testa e fechou os olhos por um rápido segundo.

- Olha, se você quiser, pode ficar.
- Amanhã, quem sabe…

E mais um dia ela nos deixou para amanhã. E novamente eu quis pedir para que ela ficasse, mas não soube. Por que amar me tira tanto as palavras? Por que, meu Deus?"
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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