Uma dose de calma


Em exatos quatro minutos o meu ônibus chegaria.  Um casal idoso ao meu lado perguntou-me o horário. Eu respondi: dez horas e quatro minutos. O senhor virou-se para a mulher e exclamou calmamente: só faltam uns vinte e cinco minutinhos. Sentaram-se no banco e ficaram lado a lado observando a rua sem nenhum indício de inquietação ou pressa. Foi assim que eu comecei o dia perguntando-me que calma é essa de viver que nós demoramos tanto a adquirir. E, sobretudo, que impaciência é essa de viver aquilo que nem sabemos ainda o que é? Será que o passar dos anos explica, ensina, revela? Torço para que sim.

Aquele contraste entre a minha impaciência e a calma daquele casal idoso era o reflexo do que somos e nem percebemos. Apressados, inquietos, talvez inexperientes por carregarmos a juventudade ainda conosco. Por vezes, esses adjetivos podem sim nos fazer bem, afinal, de toda inquietação costumam surgir bons resultados. Mas este não era o caso. Eu tinha somente mais quatro minutos para esperar pelo ônibus. Eles tinham vinte e cinco 'minutinhos'. Eu tinha pressa sem motivo. Eles possuíam uma calma admirável.

Deve ser assim que sempre atropelamos nossos próprios passos. Essa imatura falta de paciência com o tempo. Vivemos cheios de expectativas. Para o quê? Para quem? Nem sabemos. Para mim, isso é o retrato mais descarado da tolice. É a vida rindo na nossa cara e dizendo que não somos donos de tudo. Somos tolos pela ausência de freios, por sermos afobados quando tudo é tão incerto como é. O nosso sorriso se perde tão rápido em meio a essas nossas faltas de jeito com a vida.

Deu vontade de colar na porta do quarto bem grande para ver se aprendo: c-a-l-m-a. Acalma. A vida, o coração, o presente, o futuro, o amor, o desamor... Vai deixando que o relógio passa de qualquer jeito. Acalmar para aprender. Acalmar para saber ao menos o que aguardar. A ansiedade de viver que nos invade rotineiramente, é defeito e qualidade. Entretanto, não sabemos fazer uso dela. Então, um pouquinho mais de calma. A vida merece, meu bem. Os segundos não são ruins como você pensa. O que tiver que chegar e acontecer, chegará e acontecerá, sem rugas por brigas bobas com o tempo. Aprende: um dia o tempo para, e você vai querer ter tido menos pressa.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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