O quê Rosa tinha?

Rosa tinha dor. De um amor, talvez. De uma despedida, quem sabe. Vai ver era de um abandono. Até de um vazio, diziam.

Ninguém sabia
o que Rosa tinha.

Mas quem, afinal, era Rosa? Filha de Dona Adelaide, lavadeira da rua, e Seu João Gabriel, o carpinteiro. "A menina nasceu num diazinho daqueles onde fazia frio de rachar", contava Dona Adelaide. "Pobre Rosa, juntei cobertas pelo bairro inteiro naquela noite para a menina não virar gelo logo que visse a luz do mundo", dizia Seu João Gabriel com a voz já cansada e o olhar nas lembranças de outrora. A menina nasceu rosa de inverno, segundo o que os vizinhos falavam. E isso quer dizer o quê? "Ninguém sabe, moço, ninguém sabe... Mas não parece coisa boa!"

Rosa não queria água,
mas falava de uma tal de alma.

Um dia, Rosa padeceu de dor. "Chama o doutô", gritava Dona Adelaide. Seu João levou Rosa quase nas costas até o hospital carente da cidade. "Rosa é jardim, não pode morrer levando minhas cores." O médico disse que seria preciso abrir Rosa e Dona Adelaide desmaiou nos braços do marido.

Incontáveis horas depois, o médico retornou. "E minha rosa mais vermelha, doutô, cadê?", perguntava Dona Adelaide com os olhos aflitos. "Rosa sobreviveu", decretou o médico.

"E o quê tinha Rosa?", todos queriam saber. O médico respondeu: "Espinhos. Rosa tinha espinhos no coração."

Rosa tinha marcas,
e os espinhos,
eram como espadas.

Ninguém sabia o que Rosa carregava. Ninguém nunca sabe.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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