E para ganhar dinheiro?

É engraçado lembrar de certa vez quando me perguntaram até despretensiosamente o que eu gostaria de fazer para o resto da vida. Eu respondi quase impulsivamente, mas com firmeza e tranquilidade: escrever. Parecia uma piada, mas não era. "E para ganhar dinheiro?", perguntou-me a pessoa outra vez com aquele semblante pensativo de quem internamente lembrava-se: estamos no Brasil...

Querem saber o que respondi? "Ah, é escrever mesmo. Mas, indo de acordo com a resposta que esperas, para ganhar dinheiro eu vou ser jornalista". Pareceu outra piada, mas eu juro que também não era. Então a pessoa certamente pensou que ou eu ia ganhar uma coluna na Veja e trabalhar para a Globo, ou eu morreria de fome. Das duas uma! Bom, creio que nem uma e nem outra - pobre, talvez, é o Brasil, não é? -, mas preferi deixar assim.

Lembro de passar o resto do dia pensando sobre tudo isso e alguns comentários que surgem às vezes. "Uma menina tão inteligente, poderia ser médica, advogada." A menina inteligente não quis. Ela prefere ser pobre, que mal há nisso? Ah, deixa eu ser pobre! Posso?

Novamente, é engraçado pensar isso tudo. Porque profissão é médico, advogado, engenheiro... Mas e a turma das artes? A turma dos que gostam de criar um pouco? A turma dos "irresponsáveis"? Considero aqui arte tudo aquilo que nos aflora instintos, paixões, que explora os nossos lados expressivos. Considero arte o que nos instiga. Pode ser o arquiteto ou design criando uma coisa louca, o músico com a suas notas novas, o escritor com o seu livro embaixo do braço caçando uma editora ou pode ser até o enfermeiro que quis enfermagem não porque não passou em medicina, mas porque há mais dele ali do que em qualquer outra profissão. Arte é permitir-se e falar através de si. Um advogado também é um artista, um orador e defensor perfeito, mas quando aquilo lhe é explorado, remexido de dentro para fora, não de fora - sociedade - para dentro. Arte é o nosso melhor colocado em prática. Existe coisa mais prazerosa? Rentável eu não sei, mas prazerosa não há.

Claro que a vida exige, que há contas para pagar, que músico, escritor, professor e bombeiro precisa de uns vinte empregos para sobreviver no Brasil. Mas e quanto a ser infeliz? Qual o preço? Eu sou dessa área, das artes, passo o dia criando, escrevendo e me sinto feliz. Eu não quero é espaço para a infelicidade. Talvez o dinheiro venha. Talvez eu precise de um casamento daqueles milagrosos, quem sabe? "Talvez tudo, talvez nada", como diria Caio F. Abreu, que tinha também os seus dias de morto de fome como jornalista e escritor.

Acredito que o uniforme mais bonito de se vestir é o sorriso de ser um artista de si mesmo. E para ganhar dinheiro? A gente canta ali na esquina, que tal? Todos como um coral de profissionais loucos e mal diplomados. Escrevendo e sendo jornalista eu posso morrer de fome. Eu só não morro por não ser feliz. E para você? Que se atire à rebeldia também.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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3 comentários:

  1. Eu li todo o seu blog, e sempre fica aquele gosto de quero mais!
    Parabéns, escreves de mais menina!
    Sabe, eu escrevo, ou tento, mas não tenho tamanha intensidade como ti nas palavras.

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  2. Camila, acho que eu precisava de uma dose disso, uma dose de "seja você mesmo e seja feliz, não faça o que os outros esperam que você faça, apenas seja..."
    Amei o texto. Um beijo

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