Que você me compreenda

Você não me entende, eu sei disso. Não pense que vou lhe escrever linhas e linhas dissertando sobre a sua eterna falta de entendimento. Nada disso, hoje mudarei o discurso, embora permaneça nas mesmas pessoas - eu e você, primeira e segunda.

Ainda que o dicionário torne semelhante o entender e o compreender, vejo distinção entre eles. Entender é complicado, entende? Viu, você não entende, meu bem. Nem eu entendo, acredita? É tão desgastante, custa-me tempo demais, um tempo onde eu poderia apenas lhe olhar e beijar o seu rosto bem devagar. Considero entender muito solitário, vazio, muito próprio de cada um, porém, não gosto de pronomes e coisas próprias, singularmente falando: meu, teu, dele, dela. Eu gosto do "nosso". E acho que, se você estiver acompanhando as minhas palavras e o meu raciocínio, concordará que o "compreender" soa muito mais conjunto, plural, menos solitário. Compreender é aceitar. Por isso, não me entenda, meu bem, compreende e aceite.

Você nunca entenderá porque levanto no meio da noite e encaro a rua pela janela. Nunca entenderá porque impeço tanto o sol de entrar pelo quarto logo cedo. Nunca entenderá minhas longas caminhadas sem rumo ou os meus dias de distração pura. Nunca entenderá porque custo a ligar ou tenho diálogos mais fáceis com a secretária eletrônica do que com a sua voz. Você nunca entenderá porque fujo quando volto em seguida. Você nunca entenderá meu gosto comum para doces ou meu gosto estranho para músicas. Você nunca entenderá metade dos meus olhares baixos. Mas você pode, eu sei que pode, compreender tudo. Você pode me compreender em você. Está vendo que coisa mais incrível? Compreender tem lá os seus muitos e belos significados.

Preciso ganhar espaços em ti, no teu dia a dia. Apenas te ver não é nada, meu bem, eu sempre quis muito mais, incluindo te ter e me dar para você. Difícil entender. Ah, os entendimentos são mesmo um inferno! Mas podemos compreender, de mãos dadas e passeando pelos parques ou avenidas já desertas com a noite. Podemos nos sentar em bancos ou no sofá e nos compreendermos. Um ao outro. Um no outro.

Compreender é tão lindo, tão cheio. Já ando com vazios demais para deixar os verbos me complicarem mais ainda. Quero as compreensões, compreende?
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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3 comentários:

  1. Que perfeito. Acho seu modo de escrita encantador. Lembra-me de Clarice Lispector.

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  2. Menina... como te admiro!
    Pareces uma adulta muito bem vivida.
    Desejo e faço votos que vivas "todas
    as vidas que almejas viver".
    Que Deus te abençõe.
    Vovó Neuzinha.

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  3. Lindo, tocante! Veio num momento extremamente necessário! Lúcido! Obrigado!

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