Logo volta a ser você


Hoje não vou falar de você. Ao menos não agora. Porque me enxerguei no espelho esta manhã e você não sabe a quanto tempo não me encarava tão de frente. Eu sei que o caso é sério e amor requer dedicação, mas quero dizer que também vivo os meus conflitos - femininos e humanos.


Outro dia acordei me perguntando sobre todos os que já passaram sem volta na minha vida. Como doeu lembrar que mais pareço a ferrovia que fica sentindo os pesos do que o trem que passa e vai leve e rápido. Lembro de quando era criança e tinha medo de não saber trabalhar quando crescesse. Quer dizer: eu saberia fazer alguma coisa? Agora me olham todos os dias como se eu fosse a resolução de todos os problemas, como se as linhas que escrevo e os textos que leio dependessem apenas de mim para fazerem sucesso em algum lugar. A pressão também tem o seu preço aqui dentro da muralha que vesti. Sinto dor nas costas a cada fim do dia, e já fiz e refiz exames que somente me provaram a obviedade: o problema não é no corpo, é na mente. Exausto-me. E não há você ou quem quer que seja todas as noites para perguntar “você quer uma massagem?” ou algum depósito onde coloco essa dureza toda que me ganha diariamente.


Eu dou voltas e penso que não quero acabar acabada, entende? Não quero me acabar. Não de estresse, dúvidas, desequilíbrio ou falta de viver. Eu quero me acabar dos lados bons, aqueles que dão rugas que representam os nossos risos, não a testa franzida. Ah… Você não imagina metade dos meus medos! E me deixar é um deles. Quando me deixo, quem é que me pega? Você? O vizinho do sexto andar que vive me rondando? Minha mãe que descobriu as viagens para a Europa e carrega meu pai quase todo ano? O cachorro que ainda não adotei para me fazer companhia? Não quero ser a tia com dez gatos trancafiada dentro de casa. Não quero ser a amarga que não viu as coisas darem certo. Eu sou louca, sou mulher, sou redundante nos termos. Sou redundante até nos sentimentos. E exagerada, não vá esquecer ou dizer que nunca avisei. Os pratos que como de amor nunca são suficientes e parece que vivo de barriga vazia. E quem me aguentará? Calma, calma, primeiro eu preciso aprender a me querer para depois ensinar a me quererem.


Pode ser que o pensamento dê certo, que o casamento um dia venha, que o trabalho fique menos “obrigação” e mais “satisfação”, que o encanamento do banheiro pare de me fazer chorar nos dias ruins porque não sei mexer em nada disso, que a luz da sala pare de piscar querendo me relembrar do meu proprio breu. Pode ser que eu me olhe mais no espelho e veja menos você ou qualquer outra pessoa. Pode ser que hoje eu lembre de mim.


E quanto a você? Depois do almoço, meu bem. Depois do almoço eu volto a falar de ti. É que agora, entenda, eu também precisava me enquadrar em algumas frases quaisquer. Mas logo volta a ser tudo você.


"trechos de nós."
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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