Um texto, mil pessoas


Tenho as palavras erradas para o domingo. Muito embora elas sejam erradas todos os dias, agora parece que muitos ainda dormem e talvez, apenas talvez, eu me censure menos.

Conto-lhe primeiro sobre o quê? Minha crise de semana passada, meu medo dirário, meu erro desenfreado ou a minha dúvida secreta? Conto sobre mim ou me visto de terceira pessoa? Se soubesse como cansei de terceiras pessoas... De segundas também. Da primeira, principalmente. Dentre as loucuras, a maior é me censurar pensando que algo/alguém irá entender metade do que falo e a outra metade do que quero falar e deixo escondido em analogias e metáforas sempre deslocadas. Tudo em terceira(s) pessoa(s) e significados duplos.

Mas me veja. Veja a minha tentativa de ser a primeira pessoa com as palavras erradas no domingo de um novo mês. O que parece um conjunto perfeito é, na mais fria verdade, um desencontro dos grandes. Não há mais domingos, nem voltas, nem meses novos; somente as palavras erradas. Olha, não vá confundir as minhas confissões com tristeza. A gente todo dia tira uns brilhos dos olhos de outro alguém e se refaz feliz, ao menos por instantes. E é bom saber que ainda há de onde tirar sensações.

Quer me tirar sensações? Pois digo: está tirando. Medo: esse está no topo. Medo de eu acordar e você não. Medo de eu ficar e você não. Medo de eu pedir e você não. Medo de... você não. Entende? E não são medos de início de domingo, não! São medos de um quinta-feira em pleno sol do meio-dia, medo que invade, que pisa, que ri. Medo que não se vai. Quero me colocar numa cartola qualquer e sair dali tão leve quanto um coelho, mas é o de sempre, não se pode ser terceiras pessoas, apesar de eu as ser todas elas.

Sabe o que mais penso hoje? Não plante sementes em mim, se vai me deixar sem água. Tosco, não acha? Isso que eu nem gosto do adjetivo "tosco", mas é. Parece triste, novamente, mas é apenas um recado que o meu peito estufa e quer pichar por todos os cantos. Você, quando lê, sequer entende metade dos "por ques", e eu aqui, gastando lábia com o medo, a saudade e a esperança.

Não sou uma pessoa. Sou a pessoa. Primeira. Singular. Conjugada ou infinita. Pesada ou leve. Carregada ou carregando. Escrevendo ou errando.

Quando você ler e achar que é para si, vou sorrir baixinho... Um texto, mil pessoas.


Obs: não me estrague; eu já fiz isso.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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