E você com isso?


As palavras não saem tão facilmente, entenda.

Eu não tive tantos amigos como pode parecer. Eu também não chorei no canto da sala como pode soar. Não acreditei demais como o meu rosto frágil pode falsamente denunciar, mas fiz questão de não passar a perna em ninguém mesmo assim, mesmo na hora ruim, mesmo na hora em que caí, porque caí muito, embora menos vezes do que pareça e com mais intensidade do que posso revelar.

Eu não contei segredos, afinal, são segredos. Mas é mentira isso, falo para parecer bonito e justificar de modos mais simples. Eu não contei segredos porque tremo de medo, as palavras trancam na garganta e os olhos me olhando tanto me assustam. Não foram poucas as vezes em que eu disse "não me olha desse jeito, não gosto que me olhem assim". Ninguém entendia e eu fazia parecer que tudo era um erro. E era, muitas das vezes era.

Quando falo baixinho e suave é porque quero que as palavras entrem assim também pelos ouvidos: suaves. Ah, aquele receio das más interpretações, dos erros nas figuras de linguagens e das comparações erradas. O medo de dar um tiro no próprio pé! Falar sempre foi um exercício que eu deixava para depois. Falar de si dói, você não acha? Não pense que escrevendo eu me poupo das dores porque é ilusão: encarando a própria fala dói mais ainda.

E agora você lê tudo isso e pergunta: e daí? "Quando eu entro nisso?"

Agora eu te respondo: você ajuda a destravar as minhas falas. Quando eu me faço de criança desprotegida para você, mal sabe que nunca me senti numa fase tão madura sabendo que te encontrei. E não sabe o quão maior eu quero fazer desse amadurecimento para não te perder. Os apaixonados são infantis demais e eu sei que já perdi a corrida, mas me deixa pensando que atingi o auge de mim, mesmo sabendo que se hoje você me mandar longe, amanhã eu volto com a mesma cara de criança.

O que você tem a ver? Acho que você tem culpa no cartório, que conhecia a minha insensatez e a driblou mesmo assim. Você tem a ver comigo, com a explicação dos fatos do meu passado, com o meu sorriso idiota do presente e com o meu futuro que eu nem pensava. Você tem a ver, e só.

Eu te contei segredos. Agora são nossos. Eu sabia que você seria algo como um cadeado, chave ou qualquer coisa que pudesse me revelar e me guardar. Não é ao acaso que eu gosto dos seus olhares.

As palavras vivem me pregando peças. Você é tanto e eu não sei falar.


Obs: não me faça te apagar das minhas linhas.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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