Lembrei de quando eu ainda não alcançava o chão ao sentar no sofá. De quando meus pés não tocavam o tapete do carro, meus olhos não enxergavam acima de determinados balcões e meus braços não alcançavam a ponta da porta. Lembrei de quando não tinha tamanho, mas tinha sonhos, mesmo sem saber qual importava mais.
Sem ver, cresci. Sem vermos, crescemos. Não nos damos conta de que o pé já chega lá no chão quando sentamos. Ou, quem sabe, no momento até o nosso peito faça uma festa bonita cheia de orgulho quando acontece o contato, mas logo passa, deixa de ser novidade. Nossos pés chegando lá, nossos olhos olhando mais longe e nossos braços indo mais distantes: tudo isso também se vai. E crescemos sem reparar o que fica.
Parece proporcional, ritmado: pé no chão, sonhos no chão. É alguma brincadeira que esqueceram de nos contar? É uma ironia para se rir? Pouco achamos a graça. Bom, eu pouco achei. Quando lembrei daquele tempo em que tinha braços e pernas curtos - não que tenham se alongado muito - logo me veio na cabeça o quanto se cresce sem se ver o que se deixa. Muito mais do que a liberdade de sonhar aquilo que não se pode ainda tocar ou enxergar, muito mais também do que uma sensação nova... Muito mais do que nós mesmos.
Se tivéssemos consciência do quanto vamos crescendo, será que faríamos algumas coisas diferentes? Quero dizer, se nós víssemos nossa própria evolução, como seria? Talvez viesse o medo, talvez o orgulho ou a decepção. Alegria, vez ou outra. Não sei... Nós acabamos nos perdendo tanto entre braços e pernas no meio dessa história.
Parece que sem tamanho ninguém nos leva a sério. Com tamanho, levamos nós mesmos a sério demais.
E hoje, nós temos tamanho, mas perdemos os sonhos.
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