Afinal, de qual fim se fala?

Você viu os noticiários? Aquele furacão lá nos EUA – e eu achava aquele lugar tão protegido –, a onda de assassinatos em São Paulo, a seca no sul do país, guerra, guerra e mais guerra junto com um clima louco. Vê como o mundo está de cabeça para baixo? Dizem que vai acabar mesmo, e isso é apenas o início.

E eu e você? Vamos acabar mesmo? É apenas o início da tormenta também? Teremos eventos suscetivos onde eu choro até secar enquanto você coloca uma aliança na mão de qualquer outra? É assim, não é? Tudo bem que a gente nem começou de verdade, que você vive dizendo que nada é o que parece e eu logo levo para o pessoal. Tudo bem que a gente se desencontra em todo encontro. Mas, olha, o mundo vai acabar, e agora?

Ainda estou tentando me livrar de alguns pesadelos. Terapia não dá certo, quando eu durmo o mundo é outro e nem sempre mais prazeroso. Você lembra aquela noite em que acordei achando que havia levado um tiro? Você sorriu com calma, disse que eu estava mais viva impossível, beliscou o meu braço e fez do pesadelo uma piada, mas uma piada boa. Você me ajudava e eu pensava: tem chance, meu Deus, desse homem não me amar?

O mundo acabando e você ainda nem deve ter dito tudo o que tem para dizer. Eu também não disse. Não gostei quando me convidou para o casamento de um amigo e ficou duas intermináveis horas colocando o assunto em dia com a sua paixão do colegial. Detestei quando contei que meu sonho de lua de mel era em Nova Iorque e você disse "vai precisar de um marido rico". O marido é você, imbecil! Pensei, mas não falei. Detestei também quando adiou por um mês o meu encontro com a sua família porque, na bem da verdade, não sabia que termos de relacionamento entre nós usaria ao me apresentar. "É a minha futura mulher." "É a minha namorada." "É uma amiga." "É uma..." Mais uma. Detestei muito e falei pouco, engoli sapos, trancafiei desgostos. Vai que você me achasse mais dramática do que já acha?

Voltando ao assunto principal, lá se vai o mundo, dizem que temos pouco tempo, quase nenhum. E a nossa casa na praia? Nossas viagens pelo mundo? Nosso filho que vai torcer para o seu time? Nossos medos dormindo todos os dias lado a lado? E nós? Tudo o que sonhei sozinha, o que acontece?

Está certo, você não tem medo. Fala sempre que o mundo não vai acabar fácil assim porque ainda vai nos triturar bastante. Acredito em você, é apenas questão de honra manter minha veia exagerada e dramática.

Ah... Sei lá, não consigo parar de pensar. Nova Iorque é tão longe, não é? Mesmo assim parece que o furacão – e tudo mais – acontece sempre em nós dois.

O fim do mundo é logo ali. O nosso parece que já até foi.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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