Marte? Vênus?

Lá vou eu te falar das coisas mais óbvias do que pão e vinho na Santa Ceia: homens são de Marte e mulheres são de Vênus. Nome de livro, música e até ditado popular. Homem é assim, mulher é assado. Homem quer simplificar. Mulher quer complicar. Homem é tudo igual. Mulher é a maçã do topo da árvore mais difícil de ser escalada. Homem é X. Mulher é Y, porque nem existe muito no nosso alfabeto. Porém, de um e de outro todos temos um pouco.

Eu não suportava ligações no dia seguinte. Opa, falou meu lado Marte. Eu queria um jantar a dois. Bingo, lado Vênus! Falar é bom, descobre-se gostos em comum, mas deixa que conversa eu tenho com os meus amigos. Marte! Dormir bem não é o meu forte e imaginava que um dia em algum abraço quentinho eu fosse me achar. Vênus! Eu não gravava muitos nomes ou datas. Totalmente Marte! Eu cuidava e queria cuidado. Ah, Vênus! Quatorze paixões por semana, duas por dia, e eu vivia me apaixonando em cada esquina. Tão Marte! Queria ouvir e falar um "eu te amo". Frágil Vênus! A-vida-anda-semana-que-vem-tem-festa. Poxa, Marte! Será-que-a-gente-pode-só-ficar-aqui-no-escuro-em-silêncio? Vênus, Vênus!

Entendeu? Deu mesmo para entender? Eu era sempre um pouco de cada por dentro, embora fosse muito Marte por fora. E os dois nunca se deram bem, me afastavam do meu lado bonito que, ouvia-se por aí, eu trago comigo. Coração de gelo, carne fraquinha, cabeça lá no céu... De onde eu era, afinal?

Mas Marte, há de se dizer, muda quando o amor chega. E Vênus também, claro. Lá em  Marte o pessoal fica mais... Inseguro e sentimental. Cadê o lado todo seguro de si e aquela coisa de não-me-liga-amanhã? Foi-se! E Vênus, então? Cadê a mulher que sobe no salto, não desce por nada e sabe se virar sozinha? Sumiu! Cadê as quatorze paixões por semana e a coragem de falar duma vez o esperado "eu te amo"? Fugiu tudo. Assombrou-se com alguém que quebrou o gelo, tomou a carne pra si e trouxe a cabeça pra  Terra.

Você é a convergência mais plena dos meus dois mundos. Se sou de Marte numa liberdade descomplicada e igual a todos os outros sem você, também sou de Marte morrendo de medo do nosso amor acabar e querendo a tua ligação ontem, hoje e amanhã. Se sou de Vênus querendo logo um "eu te amo" e sabendo tanto me virar sem ninguém, também sou de Vênus perdendo as palavras e te precisando aqui para dormir. 

Os meus dois planetas opostos te gritam até poesia:

Me liberta,
me liberta porque eu nasci livre,
a minha veia carrega liberdade,
deixa todo amor pra mais tarde.
Mas me prende,
me prende porque eu quero te pertencer,
é pra ti que a minha vida se vende.

Medo de cair eu já não tenho. Tenho um medo infinito do fim, vê-se lá que isso é um lado bem do feminino: quero teus braços sempre me segurando. E calma aí, porque eu também quero ser os braços que te seguram, falando-se então do meu lado masculino. O amor chega, e aí a gente se revira e não sabe mais de onde veio.

Sou de Marte e sou de Vênus, mas só me encontrei em ti.

De qualquer planeta, você sabe quem eu sou mesmo quando me perco no fundo dos teus olhos da cor do céu onde vejo os reflexos do mar.

O nosso amor, meu bem, não é daqui.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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1 comentários:

  1. Os teus textos e a tua criatividade guria, são de outro mundo.

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