Ao contrário da afirmação acima, andam espalhando por aí:
amor dói, arde, mata, meu Deus, amor mata! É o que prolifera a nova geração
pelas redes sociais e conversas pela rua. A geração mais "madura" -
não sei em quê - já está no tardio estágio da desilusão: casamento não existe,
menina, homem é tudo igual, mulher não é mais como antigamente, amor somente
nos filmes e livros. Porque nossos pais, infelizmente, cresceram entre os
Beatles, mas a maioria nunca sentiu as letras de verdade.
E agora, esses novos "amantes" que
surgem, escrevem e se apoiam em textos e frases onde o amor é puro sofrimento,
pisar em cima, chorar noite após noite, virar "um poético mar de sangue
onde nós dois nos afogamos abraçados". Ah, qual é? Já reparou nos filmes?
Já reparou na sala de cinema cheinha olhando aquele filme onde a mocinha ou o
mocinho derrama um rio pelo outro e a cena onde todos fazem num uníssono aquele
sonoro "óóó" com caras bobas e românticas, é justamente quando o
casal protagonista sorri? Quando ele, depois de muito fazer ela sofrer mesmo
sem perceber, consegue fazê-la rir. Quando ela, depois de não saber se vai ou
se fica, se perdoa ou não, fritar o cara por meses, divide uma velha receita de
bolo de chocolate, eles sujam o nariz um do outro e caem na gargalhada. Em
Titanic, todos gostam de lembrar da tragédia, de um morrer e o outro viver, mas
quem se lembra que ela se apaixonou porque ele a fez sair de si e gargalhar
tanto fora daquele mundo cético onde vivia?
No filme, na novela, no livro... O amor é
sofrimento sim, uma hora a pessoa vai pisar feio na bola, vai parecer que não
tem volta, vai ser o fim... por alguns minutos. Vai ser dormir no sofá ou ficar
um dia sem ligar. Vai ser não entender o que se passa na cabeça alheia e a
falha na comunicação causar maus entendidos. É chorar aqui e ali porque o amor
é exagero mesmo, mexe com os hormônios mais estranhos, e não porque é obrigado
ter que se machucar para poder dizer que ama e o amor é lindo como Romeu e
Julieta. Depois das brigas que não duram e aquecem a saudade, a cena do amor é
a risada, é divertir o outro, é espantar a rotina posando para uma foto com
caretas. É lembrar de dizer "eu te amo" no meio da tarde sem esperar
nada em troca.
O amor não é o que estão profetizando. Não é
encontrar alguém que entenderá do início ao fim as agonias de viver e o medo de
morrer que habita na nossa louca e obscura mente. Na maioria das vezes, ninguém
entenderá ninguém, mas não será esse um motivo para se trancar no quarto e
achar que o amor morreu. Não é esse o motivo para a tal e esperada alma gêmea
não estar na nossa frente.
Mas a gente se acostuma, não é? Dizem por aí e
vamos crendo que é assim, que tem que chorar muito e sentir o peito doer
enquanto espera o amor da nossa vida reparar em nós e nunca mais nos fazer
sofrer. Amor não é a pessoa que te deixou chorando porque acabou contigo numa
mensagem de telefone. Isso não merece um texto cheio de rimas, e sim uma boa
comédia, um bom sarro da nossa própria cara que acredita em idiotas. E não é
pela volta desse ser que vale a pena se martirizar. O amor é quem te faz sorrir
numa conversa boa de horas e horas, e quando vê, foi-se a hora. É gargalhada,
piada, um deboche aqui e outro ali cada vez que se conhece mais o outro. Não é
sangrar até morrer afogado e abraçado a quem nunca quis ficar. É derrubar na
piscina com um certo carinho e depois se jogar para pedir desculpas entre
risos.
O que a gente acha que é amor penando durante
noites, é insistência burra. Amor chega sorrindo. Faz chorar no meio do
caminho, porque é maior do que nós. Mas fica para dividir o bolo e fazer rir
com um filme repetido da sessão da tarde. E nem parece amor, porque faz mais
bem do que mal. E é amor... É amor quando apresenta a calmaria mesmo que o mar
em si seja perigoso.
Amor... Me parece mais com cuidar da felicidade e
do riso de quem se ama do que esquecer e deixar morrer. Mas as pessoas gostaram
dessa história de sofrer, pensam que dá ibope, que é bonito soar poético assim.
Eu, querendo fazer sorrir, ainda me acho um peixe fora do aquário.
Pode ser isso mesmo: amor é peixe fora do
aquário.
Cah, que peixe lindo você é! Na semana passada, a Folha publicou uma entrevista que a Juliana Cunha fez com o Simon May. Nela, o filósofo afirma que o amor é raro. Nadar no aquário parece mais seguro. Fora dele, os peixem precisam aprender a voar sem reclamar do trânsito da perfeição, sem medo de cair no prato do óbvio. Bj.
ResponderExcluirAcho muito dificil escrever sobre amor e voce fez isso com maestria. Parabens
ResponderExcluirEssa frase de título ficou ótima com o texto.
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