Ele não é você

Eu provavelmente poderia gostar dele, se nunca tivesse conhecido você. Essa é a minha maldição, para o bem ou para o mal: eu te conheci. E eu até poderia estar feliz agora, não fossem os nossos desencontros.

Meus amigos resolveram dizer que ele "vive falando de mim". Minhas amigas acham "bonitinho" quando ele fica tímido passando por mim no meio daquelas pessoas todas que também passam por nós. E dizem, eles e elas, que "ele tem medo de eu ter alguém". Pelo visto ele já me conhece o bastante e eu nem sei. Não que eu tenha alguém, mas alguém me tem. Será que ele me perdoa?

Ele é inteligente, o que me surpreende: homens dificilmente são inteligente no primeiro contato - nada pessoal - como ele foi. A inteligência não sobe à cabeça e nem o faz menos deslocado, pelo contrário, não é nenhum intelectual isolado da sociedade, já percebi que é comunicativo na hora certa e tem um bom gosto musical. Sem contar que as aparências podem até enganar, mas tem aquela típica carinha de bom moço. Eu diria que falta apenas saber se dança. Ele é dos bons, daqueles que minha mãe aprovaria de longe, e claro que deve ter lá os seus defeitos, eu que ainda não tive interesse o bastante para descobrir. Talvez cheguemos lá.

E o que um parágrafo inteiro sobre ele me faz pensar? Que ele não é você. E, convenhamos, qual a graça, se não for você? Ainda não encontrei. Com ele é mais fácil? Olha, é você quem quer tudo mais fácil; eu sempre preferi as nossas dificuldades. Posso até te imaginar agora balançando a cabeça e concluindo que é melhor assim, que eu goste logo dele, fique bem e vamos adiante!

Acredita mesmo que ele me olha como você? Esse teatro não é meu; essa farsa não é minha. O meu coração pode ser fraco, mas nunca mentiroso. Não almejo felicidade falsa entrando pela minha porta, nem quero o caminho mais fácil pelo medo do difícil. E não é porque é "recente". É porque meu amor é confuso, torto, desastrado e incoerente, mas não se engana.

Acabo por me distrair pensando que eu deveria aprender a gostar dele, mas essa coisa de "aprender a gostar" me parece tão armada, tão diferente de você invadindo meu mundo sem me deixar opções de voltar atrás. Eu gosto é do nosso atropelo, mesmo que agora você seja a parte em branco do meu dia e que o seu silêncio tenha me tirado a noite e vá tirar mais uma e outras tantas. Eu quero mesmo é o nosso jeito estranho de ser sem saber como se ama, mas amando.

Ele seria o conto de fadas, quem sabe? Aquele conto de fadas que você insiste em falar. E, veja só, eu não quero. Não me diga para "fazer força até querer". Não atropele meu coração. E se você fosse um pouco mais você de verdade, nosso desencontro finalmente se encontraria, e dessa vez para não se perder mais.

Eu até poderia gostar dele, mas... ah, ele não é você.
Não quero perder a mania de ter que ser você.

Toda vez que ele passar por mim sorrindo como hoje, eu vou saber: ele não é você.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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4 comentários:

  1. E a lindeza de sempre. Leve, doce, bem escrito.
    Boa noite. "_"

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  2. Adorei o texto em questão, e o blog em si. Sigo :)

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  3. Caramba, Camila. Você conseguiu escrever tudo que eu andei pensando mas não gostaria de admitir. Acredite, de alguma forma, você conhece mais sobre mim do que eu mesma. E que absurdo saber que há pessoas passando pelo mesmo que eu, né? Não que você seja aquilo que escreve, mas só um personagem fictício de um texto diz mais de mim do que eu mesma. Continue escrevendo sempre, por favor.

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  4. Eu poderia escrever coisas que senti ao ler textos seus , mas eu fico com uma frase que sei que significará muito para você .Você fez a diferença para mim .Obrigada.

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