Sem voz

Nunca quis tanto falar como agora. Na verdade, nunca precisei tanto falar, e "precisar" ganha do "querer" nessas horas. E hoje, no meu silêncio incapaz, deixei a música tocar alto no volume do que me grita, seja lá a alegria ou a tristeza, a saudade ou a presença.

Reli ao acaso o que já escrevi uma vez, quando em outros tempos já falava que gostaria de saber pedir ajuda, ligar no meio da madrugada e implorar que alguém do outro lado não desligue, ceder, baixar a guarda da minha força, deixar que façam por mim o que teimo em fazer pelos outros. Não consigo. Por isso a garganta agora engasga tão agoaniada e sente torcerem as cordas vocais que não falam, nem sequer gaguejam. Querem, mas nada falam.

O tempo passa, mas sigo como essa criança geminiana que oscila entre o que sente e o que pensa, entre o mundo de fora e o mundo de dentro, o que tem e o que não pode ter. Ainda não me desprendo de velhos hábitos.

Vou contar o quê? Como? Por quê? Vou me explicar pelas razões que não são minhas? Meu medo não é a minha fraqueza, e sim o que os outros farão dela. É falar, falar, falar e descobrir que os ouvidos eram errados. Quem vai me jurar depois do choro que estamos todos no mesmo barco e, se afundar, afunda junto comigo?

Quero falar, mas não quero precisar entrar novamente naquela conversa de que, mais cedo ou mais tarde, tudo acaba. Quero falar, mas não quero precisar explicar que não há explicação. Quero falar, mas não quero me pegar dandos voltas no mesmo assunto. Quero falar, mas não te quero no meu tema principal. Quero falar, mas tenho medo da dor gritar.

Por isso e por aquilo, pelo que ninguém vê e eu custo a deixar transparecer, falar dói. Porque o oculto, por enquanto, quase me protege.

Quem sabe, se eu cantar ou escrever, falar já não seja tão importante.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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