À vontade


Palavras de ordem nunca foram as minhas preferidas.

Sempre quando alguém entra no meu quarto gosto que fique à vontade, tire os sapatos ou tome o controle da televisão. "Posso colocar os pés na cama?" Fica à vontade! "Posso deixar o copo aqui?" Fica à vontade! "Posso sentar no chão?" Fica à vontade! Gosto mesmo de enxergar as pessoas assim, tão à vontade, tão elas mesmas comigo. Não gosto de quem força o outro a ser duro, pesado, retido e o cobra seriedade. É como escrever: a pontuação correta nem sempre dá o melhor tom ao texto; é preciso transgredir.

Se eu pudesse gritar para cada um, seria: liberte-se! Vamos lá, levanta um pouquinho, sai dessa cadeira, dessa seriedade toda dentro de ti! Ria um pouco da própria desgraça, faz bem, humor negro também é bom. Na minha vida cada um é o que e quem quiser. Cada um canta a música que gosta com a afinação que tem. Cada um dança como sabe ou não dançar. Cada um pede a comida que bem entender, mesmo que seja um cachorro-quente no café da manhã. Cada um é livre para ser o que os olhares de julgamento do mundo nem sempre nos permitem. E aqui a liberdade também é para o erro, mas muito mais para o perdão.

Não é que eu não tenha as minhas regras e esteja completamente à vontade quando ando pelo mundo. Seria mentira dizer isso. É por isso que busco os meus iguais de vez em quando: quero quem também me permite ser. A verdade, entretanto, é que já me acostumei ao fato de que nem sempre é assim, e tudo bem, ainda se pode cantar, dançar e pular no escuro do quarto sem ninguém mais ver. Ainda se pode chorar por qualquer coisa que não vale, mas que é preciso chorar só pelo valor do drama. É preciso estar à vontade com os sentimentos, o pé na cama, o cabelo ao vento, o passado e o que quer que seja. E é preciso sair de si para se encontrar.

Não faço baderna pelo mundo. Nunca risquei um banco de ônibus. Não é isso que me importa, não são essas regras que me incomodam. Eu gosto é da eterna bagunça de poder ser o que der na telha.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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