Peso; pesa; pesar.

A dieta do corpo não vale nada. A gordurinha localizada aqui e ali, o número que a balança nos mostra... O peso que tem o peso quando se quer perdê-lo: essa dieta não vale nada, não diz nada. Eu conheço uma que é tão mais difícil.

O que nós fomos, o que estamos deixando de ser, o que se reestruturou pelas arestas de corações já pesados: dieta alguma sabe lidar. O que estamos engolindo hoje para vomitarmos amanhã ou depois torcendo para pesar menos: as receitas ainda não adivinharam. O tempo em que se fez greve, negou-se qualquer mundo dentro do seu mundo, porque, você sabe, a vida pesa: o nutricionista não entende. E ninguém sabe a sopa, o chá, o produto natural da moda, o remédio que o fulano tomou ou os exercícios na academia que possam dar uma luz e levar embora aqueles quilos que tiram o sono, mas, espera, onde estão? Ninguém vê. Porque queremos a dieta, mas não sabemos o caminho da leveza.

Se fosse simplesmente parar de comer chocolate ou largar aquela cervejinha do fim de semana. Se fosse apenas fechar a boca... Nesses termos de agora, nessa dieta maluca que não existe, fechar a boca às vezes emagrece, às vezes engorda. São dois extremos que a balança não nos conta. E nesses mesmos termos nem sempre emagrecer é bom e nem sempre engordar é ruim. A relação da vida é muito inversa.

Não se joga fora a gordura acumulada de um ano, dois, três... Uma vida. Não se joga fora uma vida, ou sim, mas essa é a dieta radical, é chegar no ponto da anorexia, bulimia, a doença da louca vontade de ser mais buscando ser menos e se ver numa cama de hospital. Porém, dessa vez, os aparelhos não poderão diagnosticar qual vitamina falta, qual tratamento seguir ou qual a quantidade de soro. A vida é a cura e a doença. Os médicos também não sabem lidar.

A sua dieta pode ser um novo emprego. A dele, olhando bem assim aqueles olhos agitados, talvez seja mudar de cidade. A do vizinho me parece ser um carro novo. A de uns é falar menos e ouvir mais. A de outros é falar mais e deixar que lhe falem menos. A minha poderia ser sentir menos, ter o coração não tão aberto para uns e não tão fechado para outros. A minha deveria ser sentir menos, de fato. Deveria, um médico receitaria, não há dúvidas. E todos diriam que é para o meu bem maior, para não acabar naquela cama invisível de hospital... Para não ter que me alimentar de sabe-se lá o quê. Mas eles não sabem que meu alimento necessário é também o meu veneno e que não sou exceção nesse mundo: a vida me cura e me mata. Coração leve não quer dizer coração vazio, só que essas doses eu também nunca entendi bem. Sei lá, deixa a dieta para a próxima segunda.

No fim não há dieta. Minha mala cheia tem um peso que só aumenta, seja isso bom ou ruim. Seja isso salvação ou derrota. Ah, vai, dá para ser feliz, sem essa de dieta, sem essa de ficar mais bonito por fora. Sem essa de crer que a balança da vida um dia nos contará com clareza para que lado está pesando mais.

A gordura fica, não adianta cirurgia. Essa vida passa, mas a gordura fica em forma de lembrança, amor, saudade, carinho, mágoa, raiva, sufoco, tristeza e felicidade. A gordura é, nesse contexto irreal, nada além da vida vivida. Eu falei de dieta e falei em ser melhor, mas eu não falei do corpo.

A vida aprende mesmo é a pesar, apesar de pesar.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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