Solidões e companhias

João e o Pé de Feijão by Cícero on Grooveshark

Ninguém adivinha a sua tristeza e nem coroa o seu sucesso. Se você quiser um colo, peça. Se quiser aplausos, cative-os. Mas, se encontrar quem te dê colo sem pedir, não largue. Se ouvir um aplauso por simplesmente não desistir, agradeça. Nessa vida de ninguém, "ter a quem" virou ilusão.

A falta do abraço ou do aplauso é só um dos primeiros avisos da vida de que nascemos e morremos sozinhos. O primeiro, na verdade, acredito que seja quando os nossos pais começam a nos ensinar a dormirmos sozinhos. Mesmo que a gente chore uma noite inteira no berço, eles, com aquela dor no peito típica dos pais, pensam que o esforço é necessário: "ele precisa aprender a dormir sozinho". Quando aprendemos a andar ou falar, qualquer gesto gracioso nessa fase, os pais mais prudentes avisam: "não elogia muito ele, nem pega muito no colo, vai deixar mal acostumado". Parece frieza, ato horrendo, mas é que, na verdade, nós precisamos aprender a viver com a solidão. Conviver.

Nos términos, nas despedidas, no "até logo" que vira "nunca", nessas perdas todas, a solidão nos envia um recado. Ela vive travestida de muita lágrima, isso é triste, mas também é verdade, porque as verdades mais duras e tristes são, enfim, as mais necessárias e inevitáveis. A solidão é inevitável. Vez ou outra, é necessária.

Às vezes, quando chove, a chuva é companhia para quem sabe vê-la. Então, a solidão que se instala quase nos aquece, é um sopro de consolo. Não é mais somente aprender a dormir sozinho num quarto escuro com meses de vida ou levantar no meio da madrugada para pegar água quando se mora sozinho pela primeira vez. É ouvir o próprio choro sem refúgio e não fugir dele. É encarar a própria dor e deixá-la falar. Mas não é apenas tristeza. É ir no cinema sozinho pela primeira vez, viajar consigo mesmo pela Europa, tomar um café da tarde numa mesa para um... Tem muita solidão virgem nos esperando.

Mais triste do que a solidão em si é a solidão de quem não se acompanha. De quem nunca aprendeu a dormir no escuro do seu quarto sem se permitir chorar. Eu conheço um bom número de pessoas que faz de tudo para não estar sozinho. Aceita até quem não queria ter que aceitar, tudo para fugir do espaço vazio demais. No fundo, uma festa lotada é o cenário mais perfeito de crianças que não aprenderam a dormir sem os pais. E mesmo sabendo que nascemos e morremos sozinhos, alguns nunca, jamais vão entender que não se deve esperar nada da vida ou das pessoas; que viver é muito mais buscar do que esperar.

Só quem prova das solidões pode aproveitar as companhias.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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3 comentários:

  1. Lindo Camilaaa! :3
    (ainda quero um livro teu.)

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  2. Ah, Camila. Dia desses vou ter que trancar meu cérebro pra parar de pensar nas suas palavras.

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