Pensando, pensando e pensando

Terra de Gigantes N?meros by Engenheiros do Hawaii on Grooveshark

"Você parecia uma menina olhando para as mãos e pensando, pensando, pensando..."

Eu sou. Você que falou isso, acertou. Nem precisou me ver para me ler. Eu sou essa menina, essa criança, ora assustada, ora cheia de coragem, ora covarde, ora decidida, ora perdida. E olhando para as mãos enquanto torço para o tic-tac do relógio passar mais rápido. Não que eu esteja esperando algum em especial chegar. Eu só estou esperando o fim de muitos outros. Pensando, pensando e pensando.

Já não tem a ver com quem me machucou. Não tem a ver com quem mentiu ou foi embora. Não tem a ver com quem se perdeu no caminho ou não soube deixar flores ainda vivas para fazer companhia. Tem a ver com quem ficou. Com quem ameaça ir. Com quem o tempo talvez leve consigo. Com quem é flor, mas se esquece de regar. Tem a ver com o fantasma que às vezes some, dá uma volta, despista, mas sempre, sempre retorna para assombrar os sonhos de quem nunca soube o jeito certo de sonhar. E assombrar também a realidade, essa que eu também nunca sei a dose certa para viver.

Tem a ver com a luz que alguém esquece de desligar e com a outra que eu esqueci de ligar. Tem a ver com as palavras que não foram ditas, com os gestos que ficaram para depois. De depois em depois eu já errei a conta. Tem a ver com as milhas, com as esquinas, com os prédios e as casas. Eu já aprendi as lições, estão num livro dentro da minha mente decoradas página por página. Sei como não entrar nisso outra vez, ou como sair. Só não sei se decorar é aprender.

Eu queria morar em hotéis e mudar tanto que um dia enjoaria, então, iria querer uma casa, desenhada por mim, ainda que eu não saiba desenhar. Um canto para ser um lar, para me sentir parte de algum lugar meu. Um casa com sacada, com janelas que deixassem o vento entrar na hora certa, que tivesse um terraço para eu ver as estrelas e a lua por um telescópio, uma parede colorida, fotografias, livros pela sala inteira, uma música ao fundo embalando o dia e uma cama quente com alguém sempre me esperando voltar. Queria que os hotéis me ensinassem a querer mais do que acho que posso. A pertencer, mesmo que eu viva pensando que não há espaço para mim por aí em algo ou alguém - e mesmo que eu peça pouco, que eu nem saiba pedir. Um lugar para eu deixar de ser a menina olhando para mãos pensando, pensando e pensando.

Se eu fosse criança, de fato, teria ao menos lindos balões coloridos para brincar. Teria monstros embaixo da cama que os pais espantariam antes da noite chegar.

Mas eu não sou criança. Eu já passei da hora.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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