Ao seu "ouro"

Antigamente, poderia encher um caderno de palavras em apenas uma semana. "A palavra, tanto quanto o silêncio, vale ouro", eu lia por aí. Mas não queria riqueza, nunca quis, não queria segurar comigo esse "ouro". Guarda-lo, para mim, era como colocar uma corda no meu próprio pescoço: eu não poderia viver sem respirar. O que aprendi é que cada um de nós tem o seu ouro.

Não sei ainda se o tempo me ensinou a ser mais polida, contida ou quieta. Cada palavra tem a sua particularidade e eu sempre gostei de dar a elas uma, duas, três funções. A vida, enquanto me dava histórias para encher mais e mais cadernos, também me dava a sensação de que o silêncio pode me proteger, pois é assim que as pessoas chegam lá. E até hoje eu ainda não sei bem onde fica esse tal de "lá", mas, vez ou outra, construo os meus muros de silêncio por me atrapalhar demais com o barulho.

Fui reduzindo meus cadernos, talvez apertando a corda no pescoço, mas nem sempre faltou o ar. Mesmo hoje, quando ele me falta, ainda tenho uma sobrevida, todos temos, precisamos ter. Sobreviver também faz parte da tarefa de viver. Às vezes, o maior telespectador ou leitor da nossa vida - como preferir - somos nós mesmos. Outras pessoas ou não querem ou não podem ou não estão. Simplesmente não (nos) acompanham. A história segue e os cadernos vão se lotando. No fundo, nunca sabemos se vivemos para nós ou para o mundo.

Por que nós falamos tudo o que falamos? Eu não sei de onde saem a maioria das minhas palavras, mas ainda tenho a ingenuidade da mesma criança de oito anos que escrevia e falava acreditando estar saindo tudo do coração. A nossa cabeça envelhece cedo demais. Eu poderia contar agora se a minha envelheceu ou não, mas, como disse, o tempo me silencia, assim como faz com todos nós. Não quero embrutecer, mas preciso me proteger, ainda que não saiba nem quem é o inimigo.

Hoje, as palavras que rodam todos os dias a minha mente já se perderam em um labirinto. Eu não queria reler e descobrir que repito os termos, mas quem é que não se repete? No caderno da vida eu me vesti de páginas em branco só para deixar, pelo menos dessa vez, o silêncio contar a minha história. Se eu me repetir, é porque nem sempre tudo é tão bom assim. O ouro nem sempre faz questão de brilhar.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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