Quem-sabe-eu-e-você


Eu te olhei como quem não acredita que o outro existe. Quer dizer, eu acreditava, porque você estava ali em carne e osso, mas quem já deu muito "murro em ponta de faca" sabe como é: as coisas boas parecem miragem.

Obrigada pelos olhos escuros bonitos e o jeito como eles olham o mundo, porque na maioria dos dias eu perco a esperança de que alguém seja assim. Obrigada pela paciência, porque nem sempre acredito em "gostar". Talvez precisasse mesmo te olhar mais de uma vez para acreditar. Obrigada por ter ido, vindo, me enxergado em outras pessoas... Você sabe, tudo isso é questão de persistência, "dar murro em ponta de faca", de novo.

Não que eu esteja comparando você a qualquer outra pessoa, mas a harmonia entre o seu sorriso e o seu olhar é a surpresa mais bonita em que já eu tropecei na vida - e eu nem sabia que essas coisas deviam combinar. Mas quem te olha assim de fora nem pensa como você é por dentro, longe de festas e bebidas e outras tantas coisas. E foi a tua loucura que me viu desabafar e desabar para depois me acalmar. Essa é a parte que ninguém vai acreditar quando contarmos, porque normalmente eu seria a calma e você o lado oposto.

Depois que virei a esquina da sua casa enquanto o dia amanhecia, já sabia que poderia decorar o caminho. Logo no meio da quadra entrei no primeiro táxi e pedi um cartão ao motorista, porque eu posso querer voltar muitas vezes - eu vou voltar muitas vezes. E logo que você perguntou algum tempo depois "chegou bem?", eu sabia de onde iria querer chegar. Eu sei que há milhares de coisas que quero esquecer, mas o teu endereço não é uma delas. Agora, coleciono novas memórias de nós: você e a sua paixão por café no meio da madrugada, os vizinhos discutindo e nós fazendo o mínimo de barulho no corredor para escutarmos, aquela música, aquele beijo, aquelas horas.

Sobre a conversa da última noite, não desconfie de mim; eu sou apenas um acidente do passado, mas me conserto em algumas semanas. Sei que combinamos de deixar as histórias dos últimos meses de lado, mas sabe qual eu não esqueço? Quando nossos amigos em comum nos interromperam e disseram: "todo mundo já sabia o que ia acontecer". Você escondeu a cabeça no meu ombro e depois encheu o meu rosto de beijo - é a segunda vez que faz isso, estou contando. Pelo menos dessa vez eu não me importei em ser a última pessoa a saber.

O que importa não é a teoria. Não é se está escrito ou não, se os signos estão de acordo, se os astros querem ou o mundo conspira a favor. O que importa é o olhar. É o toque. É o pedido de desculpas. É o jeito como nós tropeçamos querendo acertar. É o passar do tempo e o encontro de histórias. O que importa nessas histórias de quem-sabe-eu-e-você é que a margem de erro é sempre 50%, para certo ou errado. E ainda bem que matemática não é o nosso ponto forte e que relacionamentos nunca foram uma conta exata.
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Autor: Camila Costa

Dizem que "essa guria tem uma caneta no lugar do coração". É gaúcha, jornalista e quase adulta com 23 anos. Um dia chega lá.
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